Em 26 de abril de 2021, um dos capítulos da dissertação de mestrado de Gabriel Prohaska Bighetti, egresso do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Conservação (PPG-CIAC) em 2020, foi publicado no periódico científico “Environmental Pollution”. O artigo “Bioaccumulation of mercury is equal between sexes but different by age in seabird (Sula leucogaster) population from southeast coast of Brazil”, analisa a dinâmica da concentração de mercúrio na população de atobás-marrom (Sula leucogaster) que nidificam no Arquipélago de Santana, localizado a 10 km da costa de Macaé, Rio de Janeiro.
O atobá-marrom é uma espécie de ave marinha que apresenta dimorfismo sexual reverso por tamanho, isso significa que a fêmea é maior que o macho. Além disso, é possível diferenciar indivíduos juvenis dos adultos através da coloração das penas, visto que os juvenis têm plumagem toda marrom e bico escuro e os adultos têm o ventre branco e bico e patas amarelas. A espécie é amplamente distribuída em regiões tropicais do globo e no Brasil nidifica desde o Arquipélago de São Pedro e São Paulo (única parte do território brasileiro no hemisfério norte) até as ilhas Moleques do Sul, em Santa Catarina.
A pesquisa avaliou se o dimorfismo por tamanho, presente em diversas espécies de aves, resultaria diferenças nas concentrações de mercúrio (Hg) entre fêmeas e machos adultos. Também foi analisado se haveria diferenças na concentração de Hg entre adultos e juvenis, devido ao menor tempo que os juvenis teriam para bioacumular esse metal pesado no seu organismo por meio da ingestão de presas. Esse tema é particularmente importante pois as aves podem ser utilizadas como bioindicadoras da qualidade dos ambientes em que habitam. Para isso utilizou-se as penas, sangue e ovos de atobá-marrom, além de peixes consumidos por essas aves e coletados por meio de regurgito espontâneo. As fêmeas e os machos apresentaram concentrações semelhantes de mercúrio total (THg) e metil mercúrio (MeHg) nos tecidos, sem diferenças estatísticas entre os sexos. Assim, o dimorfismo de tamanho sexual não influenciou as concentrações de mercúrio entre os tecidos e ambos os sexos podem ser usados como biomonitores. Os atobás juvenis apresentaram menores concentrações de THg e MeHg em comparação com os adultos devido ao menor tempo de exposição do mercúrio para bioacumulação em seus tecidos. Este estudo é o primeiro que avalia as concentrações de THg e MeHg na população de atobás-marrons do Arquipélago de Santana e será uma linha de base para estudos futuros nessa importante unidade de conservação municipal.
Gabriel Prohaska Bighetti foi orientado pela pós-doutoranda PNPD do PPG-CiAC Dra. Patrícia Luciano Mancini e pela pesquisadora Dra. Larissa Schmauder Teixeira da Cunha (coorientadora) do Instituto de Biofísica na UFRJ, campus Ilha do Fundão. O artigo contou também com a contribuição do Prof. Dr. Olaf Malm e a Profa. Dra. Daniele Kasper e da doutoranda Janeide Assis de Padilha, todos dos Instituto de Biofísica. Atualmente, Gabriel está realizando seu doutorado no Instituto de Biofísica, aprimorando seus conhecimentos sobre contaminantes ambientais em aves marinhas.
Este estudo foi desenvolvido no âmbito do "Projeto Costões Rochosos: Ecologia Impactos e Conservação na Região dos Lagos e Norte Fluminense". A realização do Projeto Costões Rochosos é uma medida compensatória estabelecida pelo Termo de Ajustamento de Conduta de responsabilidade da empresa Petrorio, conduzido pelo Ministério Público Federal – MPF/RJ, com implementação do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – Funbio. O Projeto Costões Rochosos viabilizou as expedições para o Arquipélago de Santana, bem como análises de isótopos estáveis deste projeto. Gabriel recebeu bolsa do Programa Demanda Social da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (PDS-CAPES)".
https://doi.org/10.1016/j.envpol.2021.117222
Texto elaborado por Gabriel P. Bighetti (egresso PPG-CiAC) e Patricia L. Mancini (Pós-Doutoranda PNPD e professora credenciada do PPG-CiAC).
Capa – Graphical Abstract do artigo
Figura 1. Gabriel Prohaska Bighetti capturando os atobás-marrons no Arquipélago de Santana, na costa de Macaé, RJ. Foto: Patricia L Mancini.
Figura 2. Casal de atobá-marrom (Sula leucogaster) nidificando no Arquipélago de Santana, na costa de Macaé, RJ. Fêmea em primeiro plano. Foto: Patricia L Mancini.