Imagine viver com menos de 30% do seu corpo. Certamente muitas funções seriam perdidas. Viver com 30% dos seus neurônios, por exemplo, seria como desempenhar todas as funções cerebrais humanas com o cérebro de um cachorro ou de um porco. Ler um texto como esse seria provavelmente impossível.

Essa é a situação da Mata Atlântica, um bioma que sobrevive com somente 28% de sua cobertura florestal original. Uma das consequências mais graves da perda de 72% de nossas florestas na Mata Atlântica é a defaunação – isto é, a extinção de várias espécies de animais, especialmente os mamíferos de grande porte, como os predadores de topo (onças), macacos, ou os grandes herbívoros (anta) e roedores (paca) dispersores de sementes. A previsão, portanto, é que vários remanescentes de Mata Atlântica sejam hoje verdadeiras “florestas vazias”, ou seja, matas sem animais e sem as respectivas funções ecológicas que eles desempenham para a manutenção das espécies vegetais.

Apesar do prospecto pessimista para nossas florestas, estudos recentes desenvolvidos pelos pesquisadores do NUPEM/UFRJ, Dr. Pablo R. Gonçalves e Dra. Malinda D. Henry, e seus alunos de graduação e pós-graduação, revelam que ainda há esperança para os remanescentes de Mata Atlântica no município de Macaé-RJ. Um dos estudos, a monografia da recém-graduada em Ciências Biológicas (UFRJ-Macaé), Jana Rangel Silveira, documentou registros inéditos de pelo menos 25 espécies de mamíferos silvestres de médio e grande porte, sete delas ameaçadas de extinção. Um dos registros mais notáveis é a ocorrência de onças-pardas (Puma concolor) em diversos fragmentos florestais de Macaé, incluindo o Parque Municipal Natural Atalaia, uma das UCs mais visitadas do município. Segundo o Prof. Pablo, “A presença de onças-pardas nas matas da região deve ser festejada, pois no cenário atual de desmatamento e defaunação da Mata Atlântica, esses predadores-de-topo são os primeiros a desaparecer. Sua ocorrência indica que ainda não perdemos tantas espécies de mamíferos silvestres, e que as presas de médio porte da onça ainda estão presentes nos remanescentes”.

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Onça-parda.

 

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Cutia.

 

Embora a notícia seja animadora, as ameaças aos mamíferos silvestres de Macaé ainda são variadas. A caça é uma delas, mesmo nas proximidades do Parque Atalaia, que é uma área protegida. “Estamos trabalhando junto à Guarda Ambiental para implementar maior segurança e um sistema de monitoramento do parque por câmeras para melhorarmos a proteção da fauna e dos visitantes do parque”, disse o coordenador da UC, o biólogo Alexandre Bezerra da Secretaria Municipal de Ambiente e Sustentabilidade de Macaé. “Além destas medidas, vimos realizando diversas ações de educação ambiental dos visitantes para que possamos respeitar os mamíferos silvestres do parque, que dificilmente oferecem perigo às pessoas”, completa Alexandre. Outra ameaça são os atropelamentos de fauna nas rodovias da região, que além de aumentarem a mortalidade de mamíferos, oferecem riscos também aos motoristas. O mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Conservação (PPG-CiAC/UFRJ), Rodrigo Gessulli, que vem avaliando os impactos das rodovias RJ162 e RJ168 à fauna silvestre, denuncia que onças-pardas, tatús e tamanduás estão entre as vítimas. Sua dissertação de mestrado, com expectativa de conclusão nos próximos meses, poderá indicar medidas para prevenção destes acidentes em trechos da rodovia onde eles são mais frequentes.

Os estudos, portanto, demonstram que “o pulso ainda pulsa” para a Mata Atlântica em Macaé, apesar das ameaças e desafios para sua preservação.

 

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Gato do mato.

 

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Irará.

 

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Tamanduá-miriam com filhote nas costas.

 

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