O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), grande canídeo silvestre de pernas longas, ícone do Cerrado do interior do país e ameaçado de extinção, agora marca presença também em Macaé, Carapebus e Conceição de Macabu – é o que aponta o estudo recém-publicado pela equipe de pós-graduandos do PPG-CiAC/UFRJ e profissionais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Macaé, sob coordenação do Prof. Pablo R. Gonçalves (NUPEM/UFRJ).
Os dados foram coligidos principalmente a partir do monitoramento de animais atropelados nas rodovias BR101, RJ162 e RJ168, e apontaram a presença de pelo menos 7 indivíduos registrados na região entre 2013 e 2015.
A presença do lobo-guará na fauna macaense pode ser encarada com tristeza ou alegria, dependendo dos fatos. Os registros cada vez mais costeiros de lobos-guarás podem ser consequência do desmatamento acentuado e substituição das florestas atlânticas costeiras por pastagens. Nossa forma de ocupação da Mata Atlântica ao longo de séculos a transformou em um arquipélago de pequenas florestas disperso em um “mar” de formações abertas. Essa paisagem alterada dificulta muito a vida de espécies nativas da floresta, mas oferece um refúgio a espécies oriundas do Cerrado, dentre as quais o lobo-guará. Por outro lado, uma hipótese alternativa menos cogitada é que o lobo-guará seja um habitante mais antigo do Norte Fluminense, diante da ocorrência natural de formações abertas na região, como restingas e banhados. Deste modo, estas formações poderiam sustentar uma população de lobos-guarás até hoje, assim como provavelmente ocorreu na evolução do Cerradomys goytaca, um ratinho endêmico de restingas com parentescos próximos com outros roedores do Cerrado.
Seja o lobo um residente antigo ou novo em Macaé, algumas medidas precisam ser tomadas urgentemente para que minimizar os impactos em sua população local. O estudo destaca que o trecho entre os Km 154 e 157, próximo à Usina Termoelétrica Norte Fluminense e ao rio Macaé, é o mais crítico em atropelamentos, sendo este um alvo prioritário para passagens de fauna para minimizar futuros acidentes. Além do impacto das rodovias, os animais não tem tido uma recepção nada amigável pela população, já que dois apresentavam marcas de tiro, conforme revelado no estudo. “Ao contrário do que se pensaria de um lobo, o guará é um animal tímido que se alimenta de frutos, sementes e pequenos roedores, evita aproximações com humanos e não oferece ameaça para o gado” esclarece a Mestre em Ciências Ambientais e Conservação Mariana Sampaio Xavier, que assina como primeira autora do artigo. Portanto, essa conscientização de que o “lobo não é mau” parece tão importante quanto outras ações para garantirmos a perpetuidade deste emblemático mamífero.
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Texto: Pablo Gonçalves