Os ratos-bico-de-lacre, pertencentes ao gênero Wiedomys, são encontrados principalmente nos biomas brasileiros do Cerrado e da Caatinga, ao longo do rio São Francisco. Por muito tempo se acreditava que esse gênero tivesse apenas uma espécie, mas recentemente foram identificadas duas: W. cerradensis e W. pyrrhorhinos.
Foto de Wiedomys cerradensis por Clarissa Nobre.
Em um estudo publicado em Novembro de 2024 no periódico científico Journal of Mammalogy (https://doi.org/10.1093/jmammal/gyae129), fruto da tese de doutorado do egresso do PPG-CiAC e atual professor-substituto do NUPEM/UFRJ, Carlos Alberto Cunha-Filho, a taxonomia dessas duas espécies foi revisada, e a hipótese de que o rio São Francisco atuou como uma barreira separando linhagens foi avaliada em abordagem integrativa e moderna.
Foram analisadas características anatômicas, sequências de DNA, informações sobre os cromossomos e sobre a distribuição dos animais. Os resultados mostraram que ambas as espécies são geneticamente e morfologicamente distintas, e que o rio São Francisco realmente determina a sua distribuição, sendo W. pyrrhorhinos encontrada no território à margem direita e W. cerradensis na margem esquerda desse importante rio brasileiro.
O tempo de separação das espécies é estimado entre 339 mil e 25 mil anos, um intervalo de compatível com a formação mais recente do baixo curso do rio São Francisco, que afetou também outros animais que vivem na mesma região. Assim, o estudo amplia significativamente o conhecimento sobre a distribuição e evolução dessas espécies, além de reforçar a importância do rio São Francisco como barreira divisora entre essas e outras espécies animais no Nordeste do Brasil. O estudo foi realizado em colaboração com pesquisadores de outras cinco instituições do Brasil e Chile, e foi considerado como artigo destaque (Editor’s Choice) pelos editores do Journal of Mammalogy.