Relato de aluno do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais e Conservação (PPG-CiAC) reflete a importância de se aliar o conhecimento teórico à experiência prática
"Durante a graduação, e muitas vezes depois que formamos, nós questionamos os motivos que levam à nossa grade curricular ser tão "engessada" e normalmente com poucas experiências práticas relativas ao exercício de questões que nossas respectivas profissões nos exigem quando chegamos ao mercado de trabalho. Em muitos cursos e universidades somos formados majoritariamente para seguirmos no ambiente acadêmico e alimentarmos cada vez mais a maquinaria do conhecimento científico. Entretanto, para aqueles profissionais que atuam com meio ambiente, urge uma carência, e uma necessidade da sociedade para que nos comuniquemos diretamente com ela, em prol da solução de problemas práticos de seu dia-a-dia.
Originalmente esses problemas aparentam ter seu cerne exclusivamente ambiental, mas se avaliarmos a fundo veremos que os mesmos estão interligados a problemas socioeconômicos indissociáveis dos ambientais. Dentro dessa perspectiva contemporânea, o Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais e Conservação (PPG-CiAC) do Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Sustentável de Macaé pertencente à Universidade Federal do Rio de Janeiro (NUPEM-UFRJ), oferece uma visão interdisciplinar através da disciplina "Educação e Gestão Ambiental" para seus alunos.
Na edição deste ano da disciplina "Educação e Gestão Ambiental" ocorreu uma imersão por meio de uma programação diária integral ao longo de uma semana. A temática escolhida como base para a discussão foi sobre recursos hídricos, utilizando a bacia hidrográfica do rio Macaé como estudo de caso. Os alunos tiveram oportunidade de ter um embasamento teórico sobre a história do movimento ambiental brasileiro, histórico de uso e ocupação da paisagem na bacia do rio Macaé, conceitos sobre bacias hidrográficas e serviços ambientais, planejamento estratégico de paisagens e vegetação para manutenção e qualidade de corpos hídricos, atuação do terceiro setor e do setor privado na política ambiental, papel da ciência no aprimoramento da gestão de recursos hídricos para a sociedade, e a influência das mudanças climáticas sobre a segurança climática, alimentar e hídrica no planeta.
Todo o conteúdo teórico já seria louvável para a formação dos diferentes perfis de profissionais inscritos no curso, mas a maior valia se deu através da transmissão de conhecimentos empíricos por profissionais altamente reconhecidos em seus respectivos campos de atuação na sociedade em prol do desenvolvimento econômico equilibrado com a preservação dos serviços ambientais. Tivemos uma oportunidade ímpar de ter acesso às diferentes vivências compartilhadas por pesquisadores importantíssimos para o avanço da ciência nacional, diretor de organizações ambientais internacionais, ex-secretário de meio ambiente do município de Macaé e idealizador do comitê das bacias hidrográficas dos rios Macaé e das Ostras, contemplando assim representações profissionais de grande parte das áreas da gestão ambiental.
Como se já não bastasse a excelente experiência proporcionada pela disciplina dentro de sala de aula, ainda tivemos a oportunidade de participar de visitas técnicas guiadas por profissionais gabaritados responsáveis por aspectos ambientais de grandes empreendimentos privados na região da bacia do rio Macaé. Visitamos a Pequena Central Hidrelétrica Macabu e a Termoelétrica EDF Norte Fluminense, onde evidenciamos como ambos os empreendimentos têm na água sua matéria-prima para a produção de energia e consequente geração de receitas. A partir de todo o conteúdo que nos foi passado, um debate final foi promovido afim de se propor alternativas práticas para a recuperação da bacia do rio Macaé através de instrumentos de gestão baseados em restauração de áreas de proteção ambiental, mercado de carbono, fundos de royalties do petróleo e pagamento por serviços ambientais.
Depois de tamanho estímulo cerebral, os alunos se convenceram de que com uma profunda reflexão baseada em seus conhecimentos técnicos, científicos, e práticos adquiridos ao longo de suas formações, é possível encontrar saídas para solucionar grandes problemas ambientais que acometem a sociedade em geral. Mais importante ainda, nos conscientizamos que para mudar a realidade que vivemos, além de gerarmos conhecimento, cada um de nós deve ser porta-voz desse conhecimento para fora das universidades e centros de pesquisa". (Helio Secco, 11 de maio de 2016).