Allan Pierre Bonetti Pozzobon, primeiro aluno de Doutorado do “Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Conservação” (PPG-CiAC) a usufruir de uma Bolsa do “Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior” da “Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior” (PDSE/CAPES), acaba de retornar ao Brasil, após um estágio de seis meses na “California Academy of Sciences” (CAS).
Allan desenvolve o projeto “Diversidade, distribuição geográfica e relações filogenéticas das savelhas (gênero Brevoortia) do Atlântico Sul-Ocidental inferidas através da análise integrada da morfologia e técnicas moleculares(Clupeomorpha, Clupeidae)”, sob a orientação dos Profs. Fabio Di Dario e Pablo Rodrigues Gonçalves.
Allan P.B. Pozzobon em um dos laboratórios da California Academy of Sciences (CAS).
Segue abaixo um breve relato da experiência, nas palavras do aluno:
“É difícil colocar em palavras o quanto a experiência de ser um Bolsista PDSE mudou minha forma de lidar e pensar. Digo isso não apenas em relação à Universidade e a pesquisa, pois viver em um país diferente, em uma nova cultura, também me ajudou muito a construir uma nova visão de mundo.
Nos últimos seis meses, vivi em São Francisco, Califórnia/EUA, sendo orientado pelo Dr. Luiz A. Rocha, especialista em diversidade, evolução e conservação de peixes marinhos. O Dr. Rocha, pesquisador da California Academy of Sciences, é Curador da Coleção de Peixes daquela instituição, uma das principais do mundo. Ele atualmente possui mais de 70 artigos científicos de alto impacto publicados em diversos periódicos, como a “Science”, “Journal of Biogeography” e “Evolution”, entre outros.
A California Academy of Sciences está localizada em um prédio colossal, no coração do Golden Gate Park. O próprio parque é uma área espetacular na cidade de São Francisco, com uma imensa área verde, lagoas, e até bisões livres. Além de todas as pesquisas desenvolvidas na instituição, a California Academy of Sciences abriga um dos maiores aquários do mundo (Steinhart Aquarium), além de um planetário (Morrison Planetarium) e um domo com árvores simulando uma floresta tropical (Osher Rainforest).
No subsolo do prédio, abaixo da área de exposição, localizam-se os laboratórios de genética e as Coleções Científicas. Foi nesse ambiente que desenvolvi parte do meu projeto de Doutorado. Durante seis meses frequentei essas instalações, aplicando técnicas modernas para revelar informações genéticas sobre o gênero Brevoortia, que inclui peixes marinhos popularmente conhecidos como savelhas em algumas regiões do Brasil, aparentados às sardinhas verdadeiras.
Uma das coisas que mais me impressionou na rotina da California Academy of Sciences foi ver a seriedade com a qual a pesquisa é encarada, desde detalhes na rotina de trabalho, até no compromisso e na cobrança por resultados. Outro aspecto que achei interessante é como funciona o financiamento dos projetos, excursões para coletas científicas e manutenção dos laboratórios. Nos EUA, a maior parte do financiamento para a pesquisa vem de “grants” ou financiamentos de fundos particulares, ao contrário do Brasil, onde a maior parte do orçamento para pesquisas vem de agências de fomento públicas e governamentais.
Considero que os resultados científicos obtidos durante esse estágio foram satisfatórios e fundamentais para o prosseguimento das próximas etapas do meu estudo, que deverá ser defendido em 2018. Além disso, na minha pesquisa, tive a oportunidade de viver a rotina de um laboratório compartilhado por diversos pesquisadores das mais distintas áreas, absorvendo, direta e indiretamente, seus conhecimentos e experiências. Também aprendi novas técnicas, ainda pouco comuns no Brasil, e aprimorei meus conhecimentos em genética molecular. Claro, isso tudo sem mencionar a questão do idioma: expressar cada pensamento, dúvida e palavra em inglês exigia a tradução automática pela mente, aumentando o desafio da comunicação e fortalecendo meu aprendizado naquela língua.
Viver em São Francisco foi outra experiência a parte. Um local maravilhoso, cheio de contrastes culturais e alguns sociais, com uma longa história, essa cidade norte americana é lar de uma forte tradição “hippie” e da contracultura, mas que em nível nacional iguala-se com Nova York no quesito custo de vida. Com conexão por terra exclusivamente em sua região sul e mar em todos os outros lados, São Francisco espreme-se para acomodar o número crescente de pessoas que desejam viver em suas terras montanhosas, onde os históricos bondinhos sobem e descem as ladeiras, fazendo parte do transporte público corriqueiro da cidade.
Resumindo, viver nesse lugar foi uma experiência única, por diversos motivos. Creio que convivi com pessoas singulares e vivi eventos únicos, tentando aproveitar cada segundo, e sou extremamente grato à CAPES e ao PPG-CiAC, além do Dr. Rocha e a instituição que ele representa, por me proporcionarem essa oportunidade. Espero sinceramente que o PDSE se mantenha em 2016, apesar da crise econômica que o país enfrenta, para que outros colegas do PPG-CiAC também possam se beneficiar desse Programa, enriquecendo suas vidas e carreiras, e contribuindo para o avanço da pesquisa de qualidade no Brasil.”
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