É com sentimento de grande pesar que a comunidade do Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Socioambiental de Macaé, Universidade Federal do Rio de Janeiro (NUPEM/UFRJ), unidade do Centro de Ciências da Saúde (CCS) no Campus UFRJ-Macaé, manifesta indignação e tristeza pela destruição do Palácio de São Cristóvão do Museu Nacional no incêndio da noite de ontem.

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Nesse momento trágico para a ciência mundial, perde-se um dos acervos mais ricos e únicos no mundo de artefatos arqueológicos, paleontológicos, literários, culturais, biológicos e artísticos depositados nesse, que é o principal Museu de nosso país. Também se perde de maneira possivelmente irrecuperável um dos mais significativos e belos patrimônios arquitetônicos e históricos brasileiros, que é o próprio Palácio.

A Fundação do Museu Nacional, por Dom João VI em 1818, simbólica e efetivamente marcou o momento em que o Brasil, ainda embrião de país naquele momento, almejava tornar-se uma nação efetiva, independente, tendo como alicerces o conhecimento científico e o investimento em tecnologia voltados para o bem estar e avanço de nossa sociedade. Dom João VI já havia compreendido que um país que não respeita minimamente seu patrimônio histórico, científico e cultural, que consistentemente relega ciência e tecnologia ao segundo plano, e que não consegue delinear políticas de médio e longo prazo voltadas para um crescimento sustentável vinculado à ciência, jamais deixaria de ser colônia. A nação que pretendia solidificar-se no cenário internacional com a Fundação do Museu Nacional, agora chora uma das suas principais perdas, e mostra ao mundo que não possui condições mínimas de se autossustentar científica e tecnologicamente.

O incêndio de ontem, transcorridos exatos 200 anos da Fundação do Museu Nacional, marca a perda de um patrimônio científico-cultural inestimável e irrecuperável e sinaliza de forma gritante o descaso com o qual as diferentes esferas político-administrativas de nosso país têm tratado ciência e tecnologia nas últimas décadas, e mais consistentemente, nos últimos anos. Artefatos que foram preservados por centenas, milhões de anos, até chegarem aos nossos tempos foram consumidos pelas chamas em poucas horas como resultado desse descaso com o patrimônio histórico e científico do país. É um pesar profundo termos vivido para testemunhar tamanha perda e reconhecer que gerações futuras nunca mais conhecerão este patrimônio perdido.

Ao mesmo tempo em que sofremos com essa perda inestimável e nos solidarizamos com as centenas de colegas e profissionais do Museu Nacional – estudantes, docentes, pesquisadores, e técnicos administrativos em educação – conclamamos toda a comunidade desta Universidade e a própria sociedade brasileira para que façamos uma análise sistêmica e profunda das razões pelas quais permitimos que essa tragédia anunciada acontecesse. Compreendendo essas razões e estabelecendo políticas públicas efetivas e sinceras voltadas para redimir esse cenário terrível de desmanche da ciência nacional, talvez ainda possamos, algum dia, voltar a almejar um lugar de destaque no cenário internacional, como nação e sociedade. Neste dia, poderemos quiçá voltar a olhar para dentro de nós mesmos, como indivíduos, com algum sentimento de orgulho e realização, e não apenas com essa imensa dor, indignação e tristeza que nos preenche nesse momento.

O NUPEM/UFRJ continua de portas abertas aos colegas do Museu Nacional nesse momento de crise, oferecendo sua estrutura física de laboratórios e salas de aula para que as diversas linhas de pesquisa e ensino vitimadas por essa tragédia não cessem, e para que os colegas encontrem aqui o apoio necessário para seguirmos na luta por maiores investimentos em ciência e educação.

 

Macaé, 03 de setembro de 2018.

Direção do NUPEM/UFRJ

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