O Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE), instituído pela CAPES em 2011 com o intuito de apoiar a formação de recursos humanos de alto nível, vem fornecendo bolsas de estudo para o desenvolvimento de estágio científico em instituições de elevado conceito em todo o mundo. Em 2019, três alunos de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Conservação (PPG-CiAC) da UFRJ - Rodrigo Felix, Arthur Bauer e Thiago Gomes - foram contemplados com essas bolsas. Os três concordam que o intercâmbio é uma oportunidade única de aprender novas técnicas de pesquisa, trocar experiências e ampliar as redes de colaborações.

 

Segundo Rodrigo Felix, que está sediado na Universidade de Auckland, Nova Zelândia, o apoio do PDSE tem sido uma ótima oportunidade para promover seu aprendizado em geomorfologia fluvial, uma disciplina que complementa sua pesquisa no Doutorado em ecologia da restauração. O período de estudo em Auckland, além de estar sendo extremamente agregador para sua tese pois ele está sendo capacitado a estudar outras formas de interpretar integridade ambiental em riachos degradados, também foi fundamental para que Rodrigo se aprofundasse no resgate da cultura indígena e a importância da valorização ambiental para grupos sociais que sofrem grande pressão desde o Brasil colonial. Segundo Rodrigo, “a Nova Zelândia foi um dos primeiros países do mundo que levantou uma estratégia forte de resgate da cultura indígena, o grupo Maori. Este país também foi um dos primeiros a inserir na legislação os direitos de um rio como um cidadão, onde um crime contra o rio é interpretado como um crime contra um ser humano. Toda essa experiência tem sido muito positiva para o desenvolvimento de meu Doutorado.”

Arthur Bauer, por sua vez, está desenvolvendo seu projeto de pesquisa na University of Windsor, Ontario, Canadá. Ele ressalta que “além de toda a experiência profissional e aprendizado durante o período da Bolsa Sanduíche, estou tendo a oportunidade de conhecer novas pessoas, lugares e um pouco da cultura local”.

O discente Thiago Gomes está realizando o doutorado sanduíche na University Technical of Denmark, em Lyngby – DTU. A DTU é uma Universidade com padrões internacionais. Atualmente ela está entre as Universidades mais Inovadoras do mundo, entre as nove melhores da Europa, e é considerada a universidade número um entre os Países Nórdicos. Thiago está vinculado ao grupo de pesquisa de “Engenharia de Sistemas e Design” que pertence a área de “Inovação” da Faculdade de Engenharia de Gestão. “Neste grupo, convivemos com pesquisadores de diversos lugares do mundo, de diferentes formações e que estão imersos em pesquisas na área de Inovação, Design e Serviços. Todos se ajudam muito, não existe hierarquia e a colaboração é mais importante. Neste sentido, tem sido uma oportunidade interessantíssima de viver o espírito de colaboração em pesquisa. Estou pesquisando Inovação em Lugares através de processos participativos, e a Dinamarca é pioneira em Inovação, design e design participativo. Algumas ferramentas do nosso dia a dia, como Skype e o Google maps, foram inventadas por dinamarqueses, e na DTU colaboração é parte dos atributos da cultura universitária. Portanto, um conjunto de fatores acaba contribuindo diretamente para o desenvolvimento das nossas pesquisas, que vão desde as instalações à cultura de cooperação em si. Além disso, aprendemos muito com a cultura local, sobre o seu povo e costumes. A Dinamarca está entre os países mais felizes, inovadores, igualitários e cooperativos do mundo. Observar de perto este cenário chama muito a atenção. É incrível a facilidade que os dinamarqueses têm de balancear as atividades profissionais e a vida pessoal, sem abrir mão dos resultados”, complementa Thiago.

 

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Curso de geomorfologia fluvial oferecido pela School of Environment (University of Auckland) ao Rodrigo, após sua participação no Simpósio River, Coastal & Estuarine Morphodynamics. O curso foi realizado numa atmosfera amistosa e agregadora com pesquisadores de cerca de 15 países distintos. A turma ficou hospedada em um Marae, com direito a toda vivência cultural e espiritual Maori.

 

A despeito das experiências fantásticas narradas por nossos alunos no exterior, no início de 2020 os três foram surpreendidos com a pandemia de COVID-19 que levou diversos países a tomarem medidas drásticas para conter sua dispersão em todo o mundo.

Na Nova Zelândia, por exemplo, foi decretado estado de emergência e iniciou-se um “lockdown”, tendo o país fechado as fronteiras para a entrada de estrangeiros. Até o momento, apenas os serviços essenciais estão em funcionamento. O distanciamento social é regra e as pessoas devem permanecer em casa. “Venho realizando reuniões com meus orientadores neozelandeses e brasileiros, assim como com todo o grupo de trabalho por videoconferência. Consigo realizar muitas atividades de análise de dados e redação em casa. Contudo, o uso dos computadores para a produção de mapas em softwares específicos ficou parcialmente comprometido devido a não poder frequentar a Universidade”, complementa Rodrigo.

Rodrigo no momento está enfrentando um desafio ainda maior: o de voltar para a casa, uma vez que a vigência de sua bolsa terminou recentemente e seu voo de retorno foi cancelado. O aeroporto internacional de Auckland funciona com cerca de 5% de sua capacidade atualmente. “Desde o início do “lockdown” muitos estrangeiros ficaram retidos aqui. O governo neozelandês tem oferecido suporte àqueles que trabalhavam antes do “lockdown” e temporariamente não podem mais frequentar o serviço. No entanto, muitos estudantes com financiamento de seus países de origem e muitos turistas ficaram em situações complicadas, sem recurso e com muita dificuldade para retornar.”.

Em contrapartida, a medida tem salvado vidas. A Nova Zelândia agiu bem rápido. Segundo Rodrigo, “as pessoas são muito respeitosas quanto ao “lockdown” e o distanciamento social, de modo que a curva achatou rapidamente. A abordagem da polícia tem sido gentil e orientadora. Foi uma das melhores estratégias que vi, com pouca dispersão da doença e baixo número de óbitos. Um exemplo para ser seguido mundo afora”, completa Rodrigo.

 

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Arthur Bauer na University of Windsor, Canadá.

 

No Canadá, a maioria dos estabelecimentos e locais de uso público foram temporariamente fechados, assim como também foram suspensas diversas atividades consideradas não essenciais por ordem do governo federal, conta Arthur. “Os departamentos onde os alunos vêm realizando seus estágios nas universidades suspenderam todas as atividades laboratoriais. Estamos trabalhando em casa para avançar em nossas pesquisas. Para manter o foco e a produtividade, o laboratório em que atuo organiza reuniões semanais online, onde discutimos e planejamos as atividades de cada um”, complementa Arthur.

A Dinamarca também iniciou o isolamento social, quarentena, barramento aéreo e fechamento das fronteiras após detectar os primeiros casos, mantendo apenas os serviços essenciais em operação. Segundo Thiago, “na DTU fomos orientados a ficar em casa e na medida do possível desenvolver as atividades no modelo de “home-office”. Para tanto, a universidade permitiu que levássemos para casa os equipamentos e demais recursos necessários para o desenvolvimento dos estudos, como por exemplo, computadores. Semanalmente tenho reuniões pela plataforma “Microsoft Teams” com o meu grupo de pesquisa. Também estão acontecendo as orientações com os meus supervisores, sempre de forma remota. Estamos evoluindo semanalmente com a nossa pesquisa, considerando as limitações instaladas.”.

Thiago também indica que a Direção do Departamento de Engenharia de Gestão da DTU compartilha semanalmente o “Update on department situation” em relação à pandemia. A Direção também encoraja os discentes a darem sugestões e compartilharem ideias de pesquisa, ensaios e artigos inspiradores, tudo isso no sentido de ajudar as pessoas a entenderem a situação atual e os desafios que o país está enfrentando. Ainda segundo Thiago, “essas ações também servem para que as pessoas tentem aproveitar um pouco melhor o tempo em que todos estamos fisicamente afastados”. Também são oferecidas dicas e informações sobre serviços de apoio a saúde e suporte psicológico. A princípio, a DTU permanece fechada até 10 de maio.

 

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Thiago Gomes de Lima na University Technical of Denmark – DTU.

 

A Primeira Ministra da Dinamarca afirmou recentemente que os resultados têm sido melhores que o previsto. Segundo Thiago, “a Dinamarca possui níveis extremamente altos de confiança social, e neste sentido, as pessoas confiam umas nas outras e em instituições como o governo, a monarquia, os hospitais e a polícia. A confiança é um valor essencial na cultura e sociedade dinamarquesa e também é uma parte importante do ambiente de negócios. O estado compensará 75% dos salários e foi implantado um pacote para ajudar as pequenas empresas e trabalhadores independentes. O plano de reabertura do país deve acontecer gradativamente e dentro de um tempo muito inferior ao previsto, e isso se deve especialmente à colaboração da sociedade dinamarquesa. Dada a velocidade na implementação das medidas necessárias e a colaboração da sociedade, com “lockdown” e o distanciamento social, o país já iniciou o processo de reabertura de diversas atividades após a Páscoa, entre elas, as escolas infantis (crianças com familiares infectadas não devem ir para escola) e os profissionais liberais (cabeleireiros, fisioterapeutas, dentistas e oftalmologistas). Os zoológicos serão abertos a partir de primeiro de maio e até 11 de maio os encontros estão limitados a um quantitativo de 10 pessoas”. Em 1 de abril, 97% dos dinamarqueses infectados pelo vírus se recuperaram. Paralelamente à reabertura do país, o governo já está se preparando para o futuro. Diante de uma possível segunda onda do corona vírus, espera-se que os equipamentos de proteção individual sejam produzidos na Dinamarca. “Por fim, estamos ansiosos para o retorno e normalização das atividades e esperamos de fato que tudo isso passe rapidamente”, finaliza Thiago – sentimento compartilhado por todos.

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