Sinergia deve ser o termo que melhor expressa a movimentação iniciada por um pequeno grupo de professores, discentes e técnicos do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (Instituto NUPEM/UFRJ) com a deflagração da pandemia da COVID-19, em março de 2020, e que resultou na testagem de 15 mil macaenses em nove meses. Em abril de 2020, as oito primeiras amostras de swab nasal coletadas no recém implantado Centro de Triagem do Paciente do Coronavírus (CTC) chegavam ao laboratório de campanha adaptado em regime de urgência nas instalações do Instituto NUPEM/UFRJ.

A essa altura, uma dezena de pesquisadores do NUPEM/UFRJ voluntariamente se apresentava para colaborar na rotina, que envolvia a testagem em massa da população e o processamento das informações. Paralelamente, a direção do instituto mobilizava esforços junto aos hospitais, Ministério Público e Governo Municipal para a formalização de um convênio que garantiria parte dos insumos para a realização de exames no método padrão ouro RT-qPCR e resultado dos testados em até 72h.

Em turnos de mais de 12 horas diárias, de segunda-feira a sábado, a equipe formada por 15 pós-graduandos e egressos, 13 docentes e um biotecnólogo realizou as testagens entre 08 abril de 2020 e 19 de janeiro de 2021, dia em que o primeiro lote de vacinas chegou a Macaé. Em poucos meses, o número diário de testes realizados passou de uma média inicial de dez, para cem, refletindo a busca da testagem pela população, o crescimento das doações efetuadas ao fundo gerenciado pela Fundação COPPETEC e a submissão de novos projetos para a FAPERJ e empresas privadas do setor petrolífero, para assegurar a compra dos insumos.

O risco de colapso no sistema de saúde da capital nacional do petróleo

Apesar de figurar como um dos 20 municípios mais populosos do Estado do Rio de Janeiro, a desproporcionalmente elevada permeabilidade de acessos a Macaé tem estreita relação com histórica vocação econômica na cadeia produtiva de óleo e gás. Desde os anos 1970, Macaé é o portão de entrada e saída de milhares de petroleiros do país e exterior; profissionais que, em sua maioria, acessam as plataformas da Bacia de Campos pelos terminais de transporte aéreo e marítimo da cidade. Uma série de decretos municipais, o rígido controle da vigilância sanitária nos acessos ao município e a testagem em massa para COVID-19, seguida do rápido isolamento social dos casos positivos, foram medidas que contribuíram para que um cenário de colapso no sistema de saúde do município, felizmente, não se concretizasse.

Pelo contrário, dentre os municípios mais populosos do estado, Macaé apresentou a menor taxa de fatalidade pela COVID-19 (1,8%) nos primeiros seis meses da Pandemia, cerca de cinco vezes menor que aquela registrada na capital do estado.

A relevância da qualificação formada localmente a serviço da sociedade

Há 10 anos, Macaé passou a receber um outro contingente de profissionais de áreas diversas como das Ciências Sociais, Saúde, Educação, Meio Ambiente e Exatas, que buscam sua qualificação de Mestrado e Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Conservação, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sediado no Instituto NUPEM/UFRJ. O programa, que pertence à área das Ciências Ambientais da CAPES, está estruturado em duas linhas de pesquisa:

  • Biodiversidade: Estrutura e Reconhecimento
  • Sistemas Naturais, Avaliação, Conservação e Desenvolvimento Socioambiental

A atuação de discentes, egressos e docentes do PPG-CiAC no trabalho de testagem da população macaense para COVID-19 e análise científica dos dados reflete a interdisciplinaridade fomentada no programa (veja abaixo os detalhes). Foi a complementaridade da capacitação técnico-científica de cada membro da equipe que possibilitou que essa iniciativa inédita da Universidade se concretizasse. Recentemente, o relato dessa experiência e seus resultados foram publicados em um dos mais prestigiados periódicos científicos multidisciplinares do mundo, a Nature Scientific Reports.

Acesse o artigo completo aqui.

O PPG-CiAC já formou um total de 130 Mestres e 21 Doutores. Parte desses pós-graduados atua profissionalmente no Norte Fluminense em áreas interdisciplinares como Saúde, Educação, Gestão Pública e empresas do ramo de óleo e gás.

Conheça abaixo os discentes e docentes do PPG-CiAC envolvidos na testagem em massa para a COVID-19 em Macaé:

  • MSc. Alessandra da Silva Alvarenga (Graduação em Ciências Biológicas)

o   Doutoranda do PPG-CiAC: desenvolve pesquisa na área de biologia molecular e celular, estudando genes envolvidos no desenvolvimento e processo de muda em insetos.

o   Atuou na recepção de amostras, esterilização de equipamentos e manutenção do laboratório.

o   "Foi muito gratificante contribuir na testagem da COVID-19, pois pude dar um retorno para a sociedade macaense com o ensinamento que estou adquirindo durante minha formação".

Alessandra 1

  • Dr. Allan Pierre Pozzobon (Graduação em Ciências Biológicas)

o   Egresso do PPG-CiAC: desenvolve pesquisa científica com peixes marinhos e atua em consultoria ambiental.

o   Atuou no recebimento e no controle das amostras de swab originadas do CTC e dos hospitais e na extração do material genético delas, o primeiro passo para o diagnóstico da doença.

o   “É gratificante saber que as habilidades com biologia molecular que desenvolvi na universidade puderam estar a serviço da saúde pública em um momento caótico e de grande pesar para nossa sociedade”.

Allan

  • Dra. Carina Azevedo Oliveira Silva (Graduação em Ciências Biológicas)

o   Egressa do PPG-CiAC: desenvolve pesquisa com alvos moleculares para o controle de insetos vetores de doenças.

o   Atuou no recebimento das amostras, na atualização das rotinas diárias, nas confecções das alíquotas de trabalho para as extrações do RNA viral e para o teste de RT-qPCR, nos testes e na pré-análise das detecções do vírus.

o   “Durante minha formação acadêmica aprendi técnicas moleculares que me ajudaram a avaliar o patrimônio genético das espécies de pequenos mamíferos do Norte Fluminense. Usar tais técnicas moleculares na área da saúde pública, em meio a uma pandemia, foi marcante e me deu uma sensação de realização”. 

Carina

  • MSc. Janimayri Forastieri de Almeida (Graduação em Administração, docente da FEMASS e docente substituta da UFRJ)

o   Doutoranda do PPG-CiAC: desenvolve pesquisa na área de saneamento e geolocalização, desenvolvendo ferramentas para o levantamento do diagnóstico situacional do Plano Municipal de Saneamento Básico de Macaé.

o   Atuou na compilação e plotagem das notificações do COVID-19 no território de Macaé.

o   “Atuar no projeto me permitiu implementar ferramentas de geolocalização que desenvolvo para minha tese. Essa foi uma prova da importância da geolocalização de ocorrências na população como auxílio à gestão pública, na busca de soluções para situações diversas.”

Janimayri

  • Dra. Ana Cristina Petry (Graduação em Ciências Biológicas)

o   Docente do PPG-CiAC (atuação na área de Ecologia)

o   Atuou no controle do estoque dos insumos, na manutenção e organização do banco de dados, e na atualização semanal dos resultados das testagens para o comitê gestor.

o   “Contribuir com a aplicação de ferramentas analíticas da Ecologia para a área da saúde pública no contexto da pandemia do século foi, sem dúvida, uma das experiências mais gratificantes da minha vida e carreira”.

  • Dra. Carla Zilberberg (Graduação em Biologia Marinha)

o   Docente do PPG-CiAC (atuação na área de Biodiversidade)

o   Atuou nas análises moleculares da técnica RT-qPCR, realizando a amplificação do vírus e diagnóstico dos pacientes testados.

o   “Foi uma imensa satisfação poder contribuir na área da saúde pública com as análises moleculares que normalmente realizo em organismos marinhos, para fins de conservação. Utilizadas para diagnosticar esta terrível doença, essas técnicas contribuíram para a diminuição da propagação do vírus”.

  • Dra. Cíntia Monteiro de Barros (Graduação em Biomedicina e em Farmácia)

o   Docente do PPG-CiAC (atuação na área de Neuro-imunologia)

o   Atuou na extração de material genético das amostras para diagnóstico molecular e tem dado continuidade à pesquisa com análises relacionadas à resposta imunológica ao vírus. Tem coordenado as atividades de acompanhamento da imunidade pós-vacinas.

o   “Participar do projeto foi uma experiência única de poder auxiliar a comunidade nesse período tão difícil para todos. Além disso, trouxe novos conhecimentos e abriu possibilidades de novas pesquisas relacionadas à COVID-19.”

  • Dr. Rodrigo Nunes da Fonseca (Graduação em Ciências Biológicas - Modalidade Médica)

o   Diretor do Instituto NUPEM/UFRJ e Docente do PPG-CiAC (atuação na área de Biologia Evolutiva do Desenvolvimento).

o   Coordenação geral do projeto, captação de recursos a partir do estabelecimento de parcerias com instituições públicas e privadas, realização de PCRs para diagnóstico do COVID-19 bem como apoio no sequenciamento de genomas de SARS-CoV-2, e redação de artigos científicos relacionados ao projeto.

o   “O projeto foi um dos maiores desafios da minha carreira, tendo em vista o grande número de atores envolvidos nos diferentes setores da sociedade e todo o esforço e dedicação dos membros do corpo social do NUPEM/UFRJ para realização da pesquisa e testes de COVID-19. A todos os envolvidos, meu muito obrigado.

UFRJ PPGCIAC - Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Conservação
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